Paciente de 87 anos denuncia falta de insulina na rede pública do DF
Família alega estar há quatro meses sem adquirir o insumo do tipo ultrarrápido e fazendo vaquinha para comprar. “Tem dias que ela fica sem”
atualizado
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Familiares de uma paciente de 87 anos denunciam a falta da insulina ultrarrápida Apidra na rede pública de Saúde do Distrito Federal. O insumo deve ser aplicado três vezes ao dia e, sem receber o medicamento há quatro meses, parentes se organizam em uma vaquinha para comprar o produto. A Secretaria de Saúde (SES) confirmou a falta da injeção, mas alegou que há outras, do mesmo tipo, disponíveis, provenientes de rees do Ministério da Saúde.
Com renda familiar girando em torno de R$ 3 mil, os parentes da idosa disseram que já gastaram mais de R$ 600 adquirindo as insulinas. “No domingo, compramos três ‘canetinhas’, que duram em média duas semanas”, contou a neta da paciente. Segundo a jovem, a família tem encontrado dificuldades financeiras para comprar o material e que precisa do Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir o medicamento. “Minha família está fazendo vaquinhas para comprar. Confesso que tem dia que ela fica sem”, desabafa.
A Saúde do DF confirmou, em nota, que não consta nos estoques a insulina Glulisina (Apidra). Há, porém, um “pedido de aquisição do medicamento já empenhado, aguardando entrega”. A pasta informou, ainda, que há outras duas opções com ação ultrarrápida (Aspart e Lispro), e que ambas são readas pelo governo federal. O Metrópoles tentou contato com o MS, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
De acordo com a endocrinologista e professora da Universidade de Brasília (UnB) Angélica Amorim, as insulinas ultrarrápidas se caracterizam por agirem depressa no organismo, controlando a glicose de cinco a 15 minutos. “As apenas rápidas começam a ter efeito 20 minutos depois”, explica a médica. A especialista contradiz a Saúde local e diz que só a Apidra é encontrada gratuitamente.
Sobre a paciente
Também em nota, a Secretaria de Saúde alegou que a paciente teria iniciado o cadastro para recebimento do medicamento de alto custo, mas que não teria finalizado o processo, “o que impede a dispensação para ela. É necessário que ela conclua o cadastro para ter o aos medicamentos”.
De acordo com o órgão, os pacientes que recebem a medicação com o recurso federal não podem recebê-la por meio da SES, pois implicaria em desvio de recursos de outros pacientes atendidos pela pasta distrital.
A paciente idosa em questão, contudo, não tem recebido nenhuma insulina ultrarrápida desde 31 de outubro, conforme consta no controle de fornecimento da paciente (veja imagens abaixo). A endocrinologista Angélica Amorim explica que o documento indica que a paciente retira duas insulinas, uma classificada Glargina, que é uso prolongado, e a outra classificada UR, indicando ultrarrápida.
Segundo os documentos guardados pela família da idosa, a última retirada da insulina UR foi em setembro. Quando eles retornaram para buscar os dois medicamentos, no final de outubro, tiveram o apenas ao de uso prolongado, conforme consta no receituário. Pelo documento, a última retirada foi em 25 de janeiro, também apenas a de uso prolongado.
A médica especialista ressaltou a importância do uso diário da insulina. “É um risco crônico não estar recebendo, e assim ter um descontrole da glicose no organismo”.
Confira a nota na íntegra da Secretaria de Saúde:
A Secretaria de Saúde esclarece que a insulina de ação ultrarrápida pode ser de três tipos: Aspart, Lispro e Glulisina (Apidra). Esse medicamento é fornecido pelo Ministério da Saúde e pode ser enviado pelo órgão federal em uma das três composições acima.
A pasta informa que está em falta no momento é a insulina Glulisina (Apidra). As demais estão sendo fornecidas normalmente pelo Ministério da Saúde e, disponíveis na rede pública.
Com relação à paciente específica, a secretaria destaca que ela iniciou o cadastro para recebimento de medicamento de alto custo e não finalizou, o que impede a dispensação para ela. É necessário que ela conclua o cadastro para ter o aos medicamentos.
A secretaria ressalta que para recebimento dos medicamentos de Alto Custo é necessário cumprir os protocolos estabelecidos. Desta forma, pacientes que recebem a medicação com o recurso federal não podem recebê-la por meio da SES, pois implicaria em desvio de recursos de outros pacientes atendidos pela pasta estadual.
É importante deixar claro que esses casos também ensejam em mudança de marca da medicação, o que pode causar prejuízo ao tratamento. É preciso entender que, após o início do tratamento com uma determinada marca (fornecida pelo MS ou pela SES), o paciente deve cumprir todo ciclo com aquele mesmo medicamento. Isso ocorre para a própria segurança do paciente.